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Vamos nessa! (mas sem pressa)

Sexta feira é dia nacional da balada.

E como eu só redescobri isso há pouco tempo, é natural que ainda sinta um certo estranhamento em sair as sextas. Depois de trabalhar dos 18 aos 23 aos sábados, as sextas eram dia de dormir cedo pra mim. Nesse ano quebrei a regra e voltei a sair nas sextas. E notei que a noite de sexta guarda muitas diferenças com a de sábado. No sábado geralmente a parada é mais pesada, as pessoas enfiam o pé na jaca com mais convicção, visto que no domingo ninguém trabalha.
Já na sexta não... A noite se transforma numa espécie de happy hour, obviamente durando muito mais tempo além de uma hora.

Mas ainda assim é balada. E como toda balada, sempre acontecem exageros, novidades e furadas. Esta ultima modalidade eu já experimentei muito...


***


Quando eu tinha 16 anos tudo era uma maravilha. Só estudava e passava bem longe do batente. Nessa época Manaus fervilhava aos sons demoníacos do forró e do brega. Era uma verdadeira febre. Todo mundo sem exceção de classe, gosto musical ou idade ia pra recintos que tocassem esse tipo de música. Logo, logo não havia mais nenhuma casa noturna em Manaus que tocasse algum som diferente. Como a moda era isso, os donos de boates resolveram ganhar dinheiro aos montes.

Nessa época dantesca, não importava se vc curtisse rock, rap, MPB ou punk. A noite era dominada pelos sons do eixo Norte/Nordeste. Há quem enxergasse nisso uma valorização da cultura regional, dos nossos valores e blá,blá,blá. Mas na real é que era uma massificação alienante, severa e imperiosa. Começaram a surgir pessoas que ficavam mais em casa. A Net também ganhou um bom impulso nessa época.

Eis que eu, típico adolescente de classe média, ansiava por conhecer o lado selvagem e libertino da noite. As estórias que os mais velhos nos contavam eram muitas: mulheres a granel, todas fáceis e lindas, bebidas estonteantes, locais bacanas e um monte de lorotas mais. Bom, pra resumir: eu comecei a freqüentar o circuito bagaceiro (bagaceiro: festeiro, forrozeiro, brega, bebedor, mulherengo, de extremo mal gosto para uns e o paraíso para outros) e consequentemente a andar com tipos assim. Adolescentes solitários são um problema mesmo.

***


Comecei indo para um brega que funcionava as sextas e que era perto de casa. Quem é daqui já deve ter ouvido falar do Clube Municipal. Era um misto de balneário, escola secundaria mixuruca e campo de futebol. “A noite mais quente de Manaus” esse era um dos reclames que anunciavam na TV. Porém eu estava desconfiado: Já tinha ouvido uma tia minha (solteirona por sinal) falar que adorava ir pra lá. Bem, mas fazer o que né? Sozinho, sem namorada e sem muita grana no bolso eu resolvi arriscar. Afinal de contas era a primeira vez saindo na noite. O que poderia dar de errado?

Fui com colega da minha rua. O cara era um perfeito bagaceiro: bebia horrores, era pé de valsa e se amarrava em pegar umas barangas. Mas ele me convenceu que tinha mudado, que estava entrando nos eixos e que valia a pena ir com ele a um local “tão perto de casa e cheio de gatinhas”.

Chegando lá: a primeira bomba! Um monte, digo: Um MONTE MESMO...
...de coroas!

“Liga não! É só aqui na porta. Aí dá gente de toda as idades, vc vai ver!”
“Sei não...”

***


Entramos. Ambiente estranho, enfumaçado, super lotado, com cheiro de cerveja e realmente: muita gente jovem, mas a diversidade assustava. Desde os 15 até os 50. A média ficava entre 25 e 30 anos. Tanto pra mulher quanto pra homem. Sendo que havia muito mais mulheres (elas não pagavam até a meia noite)

Olho para o lado e já havia uma me encarando, até que era jeitosinha. Bem, era GOSTOSA isso sim! Mas a cara condenava... Não que fosse feia, mas ela tinha um cara de safada, dessas que chamam confusão. Olho de volta, ficamos trocando olhares por uns 15 minutos a beira da pista. Meu colega bagaceiro já estava dançando e no ataque. Eu não danço nem valsa, quanto mais aquele forró acrobático e aquele brega pornô que havia na época.

Numa dessas a carinha de safada se afasta do grupinho em que estava e vai indo em direção das mesas e por conseguinte do pouco movimento. Ela me lança um olhar 43 e meio e eu como era fraco para as tentações carnais resolvi segui-la.

***


“Oi! Posso falar com vc um instante?”
“Claro”
“Bem, estava te observando dali e te achei muito interessante. Como é seu nome?”
“Lar... er... Marcela!”
“Hum... tá. Vc está sozinha Marcela?”
“Tô, quer dizer... não. Estou com umas amigas”
“Aquelas que estavam com vc?”
“É...”
“E vc vem sempre aqu...”
“EI!”

Um bêbado grita de uma das mesas.

“Xiii...:”
“Quem é esse doido?”
“Meu marido.”
“???!!!!???”

“EI! VEM CÁ!” – o bêbado insistia.

E eu fui.

***


“Pois não?”
“VC TAVA DANDO EM CIMA DA MINHA MULHER É?”
“Não senhor. Eu só estava tirando uma dúvida com ela.”
“O QUE ERA?”
“Sabe? Na realidade eu estava interessado numa colega dela”
“QUEM?”
“Er... Aquela lá!”
“A MINHA FILHA?”
“Não... er... bem... sim, quer dizer...”
“OLHA AQUI MOLEQUE! QUER DAR EM CIMA DA MINHA MULHER? FAZ O SEGUINTE: PEGA A MINHA ALIANÇA (tirando a aliança do dedo), PEGA! ASSIM VC FICA MAIS A VONTADE...”
“Não obrigado. Desculpa qualquer coisa viu?”
“JÁ VAI? PENSEI QUE VC FOSSE QUERER TENTAR A SORTE”
“Como assim?”
“HEHEHE! TENTA A SORTE PIRRALHO! VC TEM PEITO DE AÇO?”
“Como assim?”
“AH! UM VALENTE ENTÃO? TU É MUITO ATREVIDO MOLEQUE!”
“Não, não sou. E eu não estou te faltando com o respeito, mas já que é o caso... Bem, eu já vou indo. Considerações à sua filha, à vaca da sua esposa e pode enfiar esse anel no seu cu!”

Eu vi o cara querendo se levantar pra tentar me acertar. Mas felizmente as suas respectivas “filha” e “mulher” o seguraram a tempo. Há! Qual... no máximo ele era um desses coroas que saem com umas put...er... meninas novas pra satisfazer o ego. Do tipo que banca tudo pras amigas delas. Eu é que fui BABACA de ter ido na corda...

Saí pisando duro e amaldiçoando a hora em que entrei naquela bodega.

Encontrei o meu colega se pegando com um jaburu. Puxa! Eu sei que não sou um protótipo de beleza e que não devemos julgar pelas aparências, mas putz! A mina era muito cavernosa!

“Ei! Vambora! Quase deu confusão comigo ali do lado!” – eu tento atrair a atenção dele.
“Peraí mffmfm!” – ele responde
“Cara eu vou embora! Fica aí e... hã?” – a mão da cavernosa estava me alisando, mesmo estando abraçada como o bagaceiro. Depois ela parou de trocar cuspe com ele e me disse:

“Eu estou com umas amigas aí. Vc não quer conhecer?”
“É ISSO AÍ! VAMO LÁ SEBY!”
“Não...”
“Vamos porra! É só pra conhecer, se não agradar vc cai fora”
“Não.”
“Não custa nada. Ei!” – se dirigindo a sua deusa mortificante: “Vai chama-las!”

E a Quimera com cara de Medusa foi...

“Porra! Eu falei que não. Olha! Já deu. Vou embora véio! Valeu pela companhia mas...”

Trio Parada Dura: “OI!!!!”

“Afff...”

***


Eram 3. Uma mais invocada que a outra. Deviam ter entre 30 e 40 anos...

Uma que calculo ter uns 35 anos, tinha os olhos lindamente esbugalhados e um fome de hiena. Outra, parecia que tinha engolido uma Mikasa (bola de futebol) e já estava triloca. A terceira (e mais velha) era a mais abusada, invocada e loba das três. Tinha os cabelos pintados da cor da palha, alias até hoje eu acredito que eles eram... palha.

Putz! Que mierda! Mas pra não parecer mal educado, respondi gentilmente que estava indo embora naquele momento. A mais coroa (cujo cabelo parecia ter sido penteado por um foguete) se ofendeu e soltou a pérola:

A gente (ircc...) não queremos foder ou ficar contigo! A gente (aaarrgghh!!!) só queremos (pfff! Ressuscitem o português!) se divertir!”

Porra! Feia, tudo bem. Invocada, tá... passa. Coroa, bem, sem preconceito contanto que seja só amizade...

Mas BURRA??? Ah! Isso NUNCA!!!

***


E o trio parada dura junto com o ser mitológico e o meu colega bagaceiro se dirigiam a pista de dança. “Vamos dançar!”, comandava o meu singelo guia nesse Inferno Dantesco.

Mas que nada. Sabe aquele passo que existe na ciranda? É... aquele em que vc pega a ponta das mãos da parceira e fica O MAIS DISTANTE POSSIVEL? Pois é...

As três viram o bagaceiro praticamente estuprando a mutação sci-fi da amiga delas e ficaram com vontade de levar um arrocho tmb. Cara! Segurar uma mina com sede ao pote já é difícil, imagina então três? E com um atraso de no mínimo 200 anos cada uma...

Em minha mente um mantra ecoava: “caí fora daí, Caí Fora Daí, CAÍ FORA DAÍ!!!”

Finalmente a oportunidade surgiu:

Elas falaram: “Vamos ao banheiro. Não saiam daí viu?”

A essa altura o bagaceiro já tinha bebido todas e estava jogado numa mesa. As 3 sacanas estavam a fim de suga-lo até a ultima gota de grana que ele pudesse ter. Coitado! Mas eu não ia abandonar o cara numa furada dessas. Chamei o garçom, paguei o que eu e ele tínhamos bebido e o resto (que não era pouco) eu deixei na conta delas.

Pouco depois (ó surpresa!) encontro a minha tia, aquela do inicio da estória.

Rachei o taxi com ela. Que dizia “Ah! É muito legal aí, né Seby? Puxa, eu nunca imaginei que iria te ver por estas bandas. Já pensou o que a sua mãe iria dizer? HAHAHA!”

“Provavelmente, que eu não tenho idade pra ir nesses lugares. E quer saber? Espero nunca ter...”

***


O mais engraçado é que eu continuei nessa pelo menos mais uns dois anos…
...talvez eu seja masoquista e não saiba.

Bom FDS! E evitem as furadas!

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