Ultimamente eu expressei a minha vontade de sair daqui...
E consequentemente isso me traz lembranças das poucas viagens que fiz. O irônico é que eu não sei pra onde exatamente quero ir. Não que a bola (e o bolso) esteja tão cheia que eu possa ir pra aonde me der na telha, são apenas 3 lugares que se apresentam. Dois fora do país...
Um deles é este:
Isla de Margarita
Venezuela. Estradas intermináveis, Gasolina barata, Moeda Local fraca, Comida esquisita, Guerrilha e Guardas da Fronteira...
Metade de Manaus já foi pra lá. Afinal de contas, é o destino caribenho mais próximo e acessível ($$) pra maioria da galera daqui.
Da primeira vez que fui, fiz da maneira mais barata possível, ou seja, pela estrada adentro. Foi um festival de barro pra tudo quanto é canto...
Naquele tempo o índios ainda não bloqueavam a estrada Manaus/Boa Vista e a passagem do buso era relativamente barata. Eu tinha 17 anos e viajei com a minha irmã (22), e duas tias minhas (33) e (50!)
Viajar com três mulheres, cada uma em idades delicadas, não é mole...
Na época o real valia o mesmo que o dólar. Foi a festa! Ficamos em hotéis bons e baratos, comi pra caramba e pude ir pra um monte de praias. Mas isso foi o meio da viagem. As situações insólitas aconteceram no inicio e na volta.
A viagem de Manaus/Boa Vista foi tranqüila...
Os problemas começaram quando chegamos a Santa Helena, a primeira cidade venezuelana depois da fronteira. Já viram cidades fantasma? Ou tipo aqueles povoados americanos no meio do deserto e da poeira? Pois é, Santa Helena é assim. Uma cidade fantasma que vive da passagem dos turistas que vão pro Caribe pela estrada. Só que em vez de deserto e poeira, é montanhas e sol escaldante.
Lá existem os famosos “doleros”, que são os caras que propõe vc trocar seus dólares (ou reais no caso) por bolivares (moeda local). Mas tem que ter olho vivo. Os motoristas do ônibus sempre alertam que não é bom fazer a troca com esses tipos. Primeiro pq a cotação será sempre mais baixa, logo vc estará fazendo uma troca injusta. Segundo pq esses caras tem ligação com os cartéis de contrabando e de falsificação de dinheiro, logo, se vc for pego comprando alguma coisa com grana falsa, já era...
Teoricamente eles são proibidos de subir nos ônibus e propor negocio aos turistas, mas sabe como é sul americano, né?... sempre se dá um jeitinho... Porém nesse dia “el dolero” se ferrou. Tinha um patrulha do lado de fora da rua em que paramos. Hasta la otra vez amiguito!
Pra chegar até Santa Helena, basta apresentar o RG. Isso pra quem é brasileiro. Quem quiser avançar e não tiver passaporte, volta. Tinha um cara que estava levando a namorada que era de menor. Coitado... Só tinha o RG dela, mas não trouxe o passaporte e nem permissão dos pais. Voltou chorando. Existem muitas suspeitas de tráfico de mulheres.
Dali pra frente, as próximas paradas (que foram muitas) exigem passaporte. Era um tal de andar um pouco e parar, descer do ônibus, revistar malas, revistar vc, apresentar passaporte e seguir viagem. Tava pra entoar aquela celebre canção daquele extinto comercial de companhia aérea, cujo jingle era: “Quinhentos e Cinqüenta Quilômetros/Quinhentos e Cinqüenta Quilômetros/Pare um pouquinho, descanse um pouquinho/Quinhentos e Cinqüenta Quilômetros!”
Detalhe: A medida que íamos penetrando no país (no bom sentido) a revistas iam ficando a cargo de uma hierarquia. Primeiro foram guardecos, depois funcionários rodoviários, mais tarde policiais e por ultimo militares com M-16 e baionetas.
(Nota: Militar quando tem autoridade com civil é uma raça filha da puta em qualquer parte do mundo)
Mas a viagem segue (comida ruim essa de rodoviária, viu?). As paisagens se repetem e o marasmo é inevitável...
Chegamos até mais ou menos a metade do país. De lá, o buso faria meia volta e só depois que iria para o litoral (Margarita é uma ilha, logo, é preciso ir até o litoral da Venezuela e pegar o Ferris pra chegar lá)
Rodoviária de El Tigre, 00:30 da madruga, o próximo ônibus que ia ao litoral só as 6:00 da manhã. Olhei pro lado e vi uns taxis estacionados...
“Tia, que tal tomar um taxi até o litoral?”
“Tá loco menino? Esses taxistas são tudo um bando de marginais!”
“É, pode ser... Mas eu tô vendo uns marginais de verdade de olho na senhora bem ali...”
“Onde, onde?”
“Ali perto do guichê. E tão com cara de poucos amigos...”
“Ai meu Deus! Já vi! Vamos, vamos!”
“Pra onde?”
“Pro táxi, oras!”
Hehehehe. Isso sempre dá certo! A velhota além de hipocondríaca é cheia de paranóias. A propósito os “marginais” que apontei eram um grupo de Teatro Universitário, como eu sabia? Bem, estava escrito na camisa de um deles. Mas a titia é tão medrosa que nem reparou nesse detalhe, só prestou atenção pros cabelos longos e pras caras de doido. Ainda bem, senão ia ser duro dormir a madrugada inteira naquele banco de concreto...
Todos a la carretera!
O taxi era um Galaxie igual ao da foto, só que caindo aos pedaços. Mas por dentro era um luxo só! Repare:
- Bancos de couro
- Iluminação casa da Luz Vermelha
- Volante de Formula 1
- Isulfilm azul escuro e amarelo (Argh!!!)
- Motor V8
- Cacarecos pendurados no teto e no retrovisor
O taxista era um misto de Elvis no período de decadência com aquela morsa do Pica Pau.
+
Mas muito gente boa!
Nem preciso dizer que a titia se cagou de medo do carro e do motora, mas eu a tranqüilizei:
“Não esquenta, só vamos cruzar o país!”
“Mas é possível? Ainda nessa madrugada?” – a tia mais nova perguntou
“Lógico! Eu puxo 120 Km/h e rapidinho estamos lá!” – o taxista respondeu
“Ai meu Deus!” – tia hipocondríaca
“Tudo bem, se o senhor diz” – tia mais nova
“Só espero que o carro não balance muito” – minha irmã
“Issa!” - Eu
Vim a viagem inteira conversando com ele. Me contou os lances da estrada, ladrões, assassinatos, amanhecer dirigindo, batidas, lendas urbanas. Nem dormi. O planos era chegar a Puerto La Cruz (a cidade litorânea onde pegamos o Ferris, que não é nada mais do que um Catamarã gigante que leva o pessoal pra ilha) ainda naquela madrugada. Mas o tempo passava e o sono tmb ia cobrando seu preço do simpático taxista. Numa hora quase que ele bate de frente com outro táxi. Sorte que eu o acordei a tempo...
No Porto passei mal pra caramba! Porra essas comidas apimentadas são foda!
Dormi o resto da madrugada. Perdi o amanhecer em alto mar...
A chegada a Margarita, a estadia e a volta foram rotineiras...
Tomei um porre de tequila na véspera. Sabiam que o El Mosquiton original é de lá? Com tequileiras que deixam a Feiticeira no chinelo. Elas te dão tequila de uma bolsinha pendurada na cintura e depois põe a tua cabeça no meio das coxas e balançam hehehehe! Tem os tequileiros tmb, mas esses mais parecem saídos de um Clube das Mulheres e não com aquele falso mexicano escroto que te dava um tequila fudida nos forrós de Manaus.
Ainda passamos por Caracas na volta (voltamos de avião). Cara! Aquilo é um Rio de Janeiro ao cubo. Violento bagarai! Como tinha grana sobrando, fizemos a extravagância de nos hospedarmos no Hilton. Hotelzinho bom viu? 5 estrelas, cobertura, banheira... Pena que foram só 2 dias...
Chegando a Manaus senti um gosto amargo. Sinceramente, não senti nenhuma saudade daqui. Sei lá, acho que tem coisas que o pessoal daqui não enxerga... Ainda falam de investir em Turismo! Pô! Investe na educação e na infra-estrutura primeiro...
É... definitivamente, preciso de férias!
E consequentemente isso me traz lembranças das poucas viagens que fiz. O irônico é que eu não sei pra onde exatamente quero ir. Não que a bola (e o bolso) esteja tão cheia que eu possa ir pra aonde me der na telha, são apenas 3 lugares que se apresentam. Dois fora do país...
Um deles é este:
Venezuela. Estradas intermináveis, Gasolina barata, Moeda Local fraca, Comida esquisita, Guerrilha e Guardas da Fronteira...
Metade de Manaus já foi pra lá. Afinal de contas, é o destino caribenho mais próximo e acessível ($$) pra maioria da galera daqui.
Da primeira vez que fui, fiz da maneira mais barata possível, ou seja, pela estrada adentro. Foi um festival de barro pra tudo quanto é canto...
Naquele tempo o índios ainda não bloqueavam a estrada Manaus/Boa Vista e a passagem do buso era relativamente barata. Eu tinha 17 anos e viajei com a minha irmã (22), e duas tias minhas (33) e (50!)
Viajar com três mulheres, cada uma em idades delicadas, não é mole...
Na época o real valia o mesmo que o dólar. Foi a festa! Ficamos em hotéis bons e baratos, comi pra caramba e pude ir pra um monte de praias. Mas isso foi o meio da viagem. As situações insólitas aconteceram no inicio e na volta.
A viagem de Manaus/Boa Vista foi tranqüila...
Os problemas começaram quando chegamos a Santa Helena, a primeira cidade venezuelana depois da fronteira. Já viram cidades fantasma? Ou tipo aqueles povoados americanos no meio do deserto e da poeira? Pois é, Santa Helena é assim. Uma cidade fantasma que vive da passagem dos turistas que vão pro Caribe pela estrada. Só que em vez de deserto e poeira, é montanhas e sol escaldante.
Lá existem os famosos “doleros”, que são os caras que propõe vc trocar seus dólares (ou reais no caso) por bolivares (moeda local). Mas tem que ter olho vivo. Os motoristas do ônibus sempre alertam que não é bom fazer a troca com esses tipos. Primeiro pq a cotação será sempre mais baixa, logo vc estará fazendo uma troca injusta. Segundo pq esses caras tem ligação com os cartéis de contrabando e de falsificação de dinheiro, logo, se vc for pego comprando alguma coisa com grana falsa, já era...
Teoricamente eles são proibidos de subir nos ônibus e propor negocio aos turistas, mas sabe como é sul americano, né?... sempre se dá um jeitinho... Porém nesse dia “el dolero” se ferrou. Tinha um patrulha do lado de fora da rua em que paramos. Hasta la otra vez amiguito!
Pra chegar até Santa Helena, basta apresentar o RG. Isso pra quem é brasileiro. Quem quiser avançar e não tiver passaporte, volta. Tinha um cara que estava levando a namorada que era de menor. Coitado... Só tinha o RG dela, mas não trouxe o passaporte e nem permissão dos pais. Voltou chorando. Existem muitas suspeitas de tráfico de mulheres.
Dali pra frente, as próximas paradas (que foram muitas) exigem passaporte. Era um tal de andar um pouco e parar, descer do ônibus, revistar malas, revistar vc, apresentar passaporte e seguir viagem. Tava pra entoar aquela celebre canção daquele extinto comercial de companhia aérea, cujo jingle era: “Quinhentos e Cinqüenta Quilômetros/Quinhentos e Cinqüenta Quilômetros/Pare um pouquinho, descanse um pouquinho/Quinhentos e Cinqüenta Quilômetros!”
Detalhe: A medida que íamos penetrando no país (no bom sentido) a revistas iam ficando a cargo de uma hierarquia. Primeiro foram guardecos, depois funcionários rodoviários, mais tarde policiais e por ultimo militares com M-16 e baionetas.
(Nota: Militar quando tem autoridade com civil é uma raça filha da puta em qualquer parte do mundo)
Mas a viagem segue (comida ruim essa de rodoviária, viu?). As paisagens se repetem e o marasmo é inevitável...
Chegamos até mais ou menos a metade do país. De lá, o buso faria meia volta e só depois que iria para o litoral (Margarita é uma ilha, logo, é preciso ir até o litoral da Venezuela e pegar o Ferris pra chegar lá)
Rodoviária de El Tigre, 00:30 da madruga, o próximo ônibus que ia ao litoral só as 6:00 da manhã. Olhei pro lado e vi uns taxis estacionados...
“Tia, que tal tomar um taxi até o litoral?”
“Tá loco menino? Esses taxistas são tudo um bando de marginais!”
“É, pode ser... Mas eu tô vendo uns marginais de verdade de olho na senhora bem ali...”
“Onde, onde?”
“Ali perto do guichê. E tão com cara de poucos amigos...”
“Ai meu Deus! Já vi! Vamos, vamos!”
“Pra onde?”
“Pro táxi, oras!”
Hehehehe. Isso sempre dá certo! A velhota além de hipocondríaca é cheia de paranóias. A propósito os “marginais” que apontei eram um grupo de Teatro Universitário, como eu sabia? Bem, estava escrito na camisa de um deles. Mas a titia é tão medrosa que nem reparou nesse detalhe, só prestou atenção pros cabelos longos e pras caras de doido. Ainda bem, senão ia ser duro dormir a madrugada inteira naquele banco de concreto...
O taxi era um Galaxie igual ao da foto, só que caindo aos pedaços. Mas por dentro era um luxo só! Repare:
- Bancos de couro
- Iluminação casa da Luz Vermelha
- Volante de Formula 1
- Isulfilm azul escuro e amarelo (Argh!!!)
- Motor V8
- Cacarecos pendurados no teto e no retrovisor
O taxista era um misto de Elvis no período de decadência com aquela morsa do Pica Pau.
Mas muito gente boa!
Nem preciso dizer que a titia se cagou de medo do carro e do motora, mas eu a tranqüilizei:
“Não esquenta, só vamos cruzar o país!”
“Mas é possível? Ainda nessa madrugada?” – a tia mais nova perguntou
“Lógico! Eu puxo 120 Km/h e rapidinho estamos lá!” – o taxista respondeu
“Ai meu Deus!” – tia hipocondríaca
“Tudo bem, se o senhor diz” – tia mais nova
“Só espero que o carro não balance muito” – minha irmã
“Issa!” - Eu
Vim a viagem inteira conversando com ele. Me contou os lances da estrada, ladrões, assassinatos, amanhecer dirigindo, batidas, lendas urbanas. Nem dormi. O planos era chegar a Puerto La Cruz (a cidade litorânea onde pegamos o Ferris, que não é nada mais do que um Catamarã gigante que leva o pessoal pra ilha) ainda naquela madrugada. Mas o tempo passava e o sono tmb ia cobrando seu preço do simpático taxista. Numa hora quase que ele bate de frente com outro táxi. Sorte que eu o acordei a tempo...
No Porto passei mal pra caramba! Porra essas comidas apimentadas são foda!
Dormi o resto da madrugada. Perdi o amanhecer em alto mar...
A chegada a Margarita, a estadia e a volta foram rotineiras...
Tomei um porre de tequila na véspera. Sabiam que o El Mosquiton original é de lá? Com tequileiras que deixam a Feiticeira no chinelo. Elas te dão tequila de uma bolsinha pendurada na cintura e depois põe a tua cabeça no meio das coxas e balançam hehehehe! Tem os tequileiros tmb, mas esses mais parecem saídos de um Clube das Mulheres e não com aquele falso mexicano escroto que te dava um tequila fudida nos forrós de Manaus.
Ainda passamos por Caracas na volta (voltamos de avião). Cara! Aquilo é um Rio de Janeiro ao cubo. Violento bagarai! Como tinha grana sobrando, fizemos a extravagância de nos hospedarmos no Hilton. Hotelzinho bom viu? 5 estrelas, cobertura, banheira... Pena que foram só 2 dias...
Chegando a Manaus senti um gosto amargo. Sinceramente, não senti nenhuma saudade daqui. Sei lá, acho que tem coisas que o pessoal daqui não enxerga... Ainda falam de investir em Turismo! Pô! Investe na educação e na infra-estrutura primeiro...
É... definitivamente, preciso de férias!
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