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Deja vú - 1º parte

Não é falta de inspiração. Mas com frisava anteriormente, o tempo é um roda de repetições. Logo, volto a passar por situaçõeses conhecidas e volto a pensar nas mesmas coisas.

Daí, escrevo. Esse post é do antigo In Loko (do tempo do Weblogger), e a inspiração pra ele veio justamente num momento bem parecido com o que eu vivi há pouco tempo. Semana passada pra ser mais exato.

Bebendo com alguns amigos e (tentando) tocar algo, comecei a pensar na trajetoria do rock a partir dos anos 80. Daí, fui escrevendo e escrevendo...

Alguns leitores devem lembrar desse texto. Qualquer coisa culpem a Celle, foi ela que começou com essa onda de repostar, hehe!

Os cavaleiros do Apocalipse
post originalmente publicado em 23 de abril de 2004

Tudo começou com a subida de um tirano ao poder, em meados de 1990. O nosso movimento começava a fraquejar e já mostrava sinais de cansaço. Dois dos nossos heróis, um antigo e outro mais contemporâneo, tinham acabado de nos deixar...
A situação requeria uma mudança drástica, um contra-ataque, infelizmente nossos soldados estavam cansados demais pra continuar a luta. Muitos já tinham abandonado a trilha da conquista e os poucos que restavam, ficavam padecendo das suas próprias mazelas. Esse clima foi propício para o surgimento de hordas do inferno que invadiram e devastaram o pouco que sobrou de cultura e de honra em nosso país...


Sim. Estou falando da música brasileira...

No inicio dos anos 80 houve um movimento que ficou conhecido como Brock (ou rock brasileiro, cantado em português mesmo) que difundiu uma série de bandas novas e acabou modificando totalmente o cenário musical da época, que até então era totalmente dominado pela MPB. O Brock tomou corpo e ganhou consistência, o espirito punk do your self it(faça vc mesmo, mesmo que não saiba tocar, mesmo que não saiba cantar, pois o rock não é virtuoso), inspirou centenas de jovens no país a se rebelarem contra o panorama atual da música aqui, formou ídolos e lendas. Até que veio o período de desaquecimento da economia, plano cruzado, menos grana no bolso da galera jovem (principal consumidor) e outra série de fatores. Entre eles eu poderia até citar a subida do tirano ao poder (que a propósito, era o Collor mesmo), pense comigo: O cara era do interior do país, fora do eixo do poder centralizado. Quando ele subiu ao poder, o Brock (que sempre teve uma queda esquerdista) passou a ser visto de soslaio, como uma coisa da época passada. O ato de se rebelar contra a sociedade era uma atitude considerada infantil. Visto que no novo governo, a “nova era" de prosperidade estava pra começar.

Pra que ficar falando mal do governo e da sociedade? Essa foi a estaca definitiva que faltava no peito do movimento... Maldita praga do politicamente correto... Malditos formadores de opinião vendidos... Maldita falta de cultura desse povo...

Foi neste cenário que surgiu a primeira leva dos Cavaleiros do Apocalipse, que iriam encher de trevas a música durante longos 10 anos...

Eis os culpados:

* Sertanejos – O presidente vinha de uma região rural e regionalista por natureza. Logo, começou a se dar bola (ou pelo menos as gravadoras foram nessa) aos ritmos produzidos no interior dos estados. Este movimento já existia há tempos, mas a partir de então começou a gozar de fama no país inteiro. Duplas toscas, visual tosco, musicas mais toscas ainda. Os cantores pareciam duas gralhas chorando o quanto eram cornudas! Meu Deus! E a mídia queria nos fazer engolir aquilo de qualquer jeito... Mas era só o começo...

* Pagodeiros – A segunda leva de cavaleiros. Sinceramente eu até que simpatizo com o samba, mas todo aquele apelo nacionalista, "pq o samba é a música genuinamente brasileira e blá, blá, blá?". Todo aquele discurso foi feito pra boi dormir, e no final das contas não justificava a tamanha falta de bom senso e de bom gosto de certos grupos. Como no sertanejo, a palavra de ordem era chorar as mágoas. Só que haviam algumas diferenças: Sonoridade diferente, vestimentas a la playboy de botique, não eram mais duplas e sim grupos inteiros de 5 ou 7 infelizes mal paridos, dançando pra lá e pra cá, enquanto só um cantava melodias fracas, letras que beiravam o ridículo de tão previsíveis e temas batidos há mais de séculos (como sempre: amor, chifre e saudade, não necessariamente nessa ordem), além da boçalidade de certos membros do movimento que queriam ser reconhecidos como “sambistas" e não como pagodeiros. Incomodaram muito e até hj existem ecos deles por aí, embora muitos tenham se adequado aos novos tempos e partido pra outros tipos de tosquisse (vide o Alexandre Pires). Bando de merdas...

* Axé – Aqui começamos a pegar pesado. Estes, meus queridos amigos, foram os mais prejudicais a saúde auricular da população, pois criaram um outro movimento dentro deste que já vinha arrasando a música brasileira. O movimento da “bundalização". Vindos da terra de Caetano, Gil, Nara Leão, Jorge Amado e Dorival Caymmi. Chegaram com a desculpa de fazerem “música pra dançar", inspirados em seus antigos mestres e no Carnaval de sua terra. Afinal de contas, tudo que vem da Bahia é cultura né? Puta que pariu! Quanta merda! Conseguiram ficar pior do que o pagode mais bisonho que existia. Só o fato das bundas das dançarinas serem a principal atração já denunciava: quando uma bunda canta, o que saí é só m***. As vagabas eram selecionadas em concursos pela TV e depois viravam celebridades. Os “cantores" eram os indivíduos mais escrotos da face da Terra, com suas brincadeiras ridículas e rimas imbecis. Vulgarização ao extremo, falta de cultura atordoante, banalização do sexo e do corpo, gírias estúpidas, músicas deprimentes e é claro: apoio total da mídia! Vc pode me chamar de puritano e o escambau, mas pra quem gosta de música isso era o fim. Ah! Claro! Os acéfalos e punheteiros de plantão devem ter adorado. Aff... e ainda tinham o aval das figuras “inteligentíssimas" do seu estado. É claro né? Todo mundo quer puxar sardinha pro seu lado...

* Funkeiros – Merda pra coprófilo nenhum botar defeito. Quando achávamos que não podia ficar pior do que já estava, eis que surgem os derradeiros cavaleiros. Estes eram mais violentos e ofensivos do que os do Axé. Nascido e criado nos morros cariocas, o funk sempre foi sinônimo de música marginal. Digo marginal, pq era a margem da sociedade mesmo, underground diriam uns, coisas de pobre diriam outros. Mas o fato é que eles chegaram e tomaram de assalto (literalmente) as rádios do país em meados de 99. O funk carioca conseguia ser uma espécie de Axé, só que incrivelmente piorado! Todas as “qualidades" presentes no Axé estavam nele, porém com mais linguagem chula e mais apelo sexual. O que me deixa mais puto com isso, não é o estrago que eles fizeram no ouvido e na mente da galera da minha geração e sim o que farão com a galerinha que ouviu isso desde o berço. O futuro parece cada vez mais tenebroso. O funk conseguiu reunir todo o mau gosto presente na música até então e solidifica-lo, prensa-lo e embalá-lo em CDs. Cuja venda atingiu os maiores picos. E ainda tiveram o apoio maciço da bendita TV brasileira, a maior incentivadora de merda nacional e internacional que se tem noticia. Felizmente, de todos, este gênero ao que parece está morto e enterrado. E tomara que não volte nunca mais. Fico imaginado o teria acontecido se eles tivessem tido a mesma duração do pagode ou do sertanejo...

Existem outros inimigos que ainda ameaçam o reino... Boy Bands nacionais, Ídolos Teens e “Roques" descerebrados estão por aí aos montes. Mas vamos sobreviver, nietzschiamente: “O que não nos mata, nos deixa mais fortes"

Vida longa ao rock!

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