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Un dia de Perro...

Ontem não fui trabalhar na empresa...

Teria sido melhor se eu tivesse ido...

Lá pelas 5:40 da manhã, já no pique pra ir pra parada e esperar a rota, o velho chega na porta do quarto com a maior cara de sono e diz:

- Hoje boçe nom bai trabajar na empresa, podi dormir traquilo. Djá falei com o gerente e disse que boçe nom bai... Ah si! Pero, mais tarde boçe bem comigo que tenemos que fazer um serbicinho...

Vcs devem estar indagando “Que diabos de escrita escrota é essa?”

Explico. Não é nenhum modismo e nem alguma língua nova que eu inventei. Acontece que o meu pai é argentino. Como mora há bastante tempo no Brasil, ele acabou inventando um dialeto próprio pra se comunicar. É o famoso portunhol. Como nunca aprendeu a falar direito o português ele teve que se virar desse jeito. Pode parecer estranho, mas ele consegue se fazer entender por aí. Por isso vou transcrever os diálogos com ele nessa língua.

Então tá. Eu, empolgado da vida e achando o máximo poder dormir umas 2 horas a mais, fui tranqüilo pra cama. Dito e feito, Morfeu foi generoso comigo e capotei sem maiores problemas...

As 7:30, porém já estava de pé.

- Muito bem Juan (sempre chamo o meu pai pelo nome, acho que é devido ao ambiente de trabalho), onde é o trampo?
- Calma... Djá tomou café? No? Então toma tranquilo e se arruma debagarinho que eu ti espero...
- Tá bom!


Comecei a estranhar. Ele estava bonzinho demais... Geralmente ele é estressado pacas quando vai fazer um serviço, talvez seja por isso que eu escolhi trabalhar sozinho na empresa.

Pois bem, tomei café, me arrumei, fui pro carro e fomos trabalhar na Águas do Amazonas. Ela é uma das empresas onde meu velho dá manutenção na rede. Chegando lá, já passo pelo primeiro sufoco. Ao se encontrar com uma antiga colega sua de outros carnavais, o meu velho fez o que sabe fazer de melhor: me deixar encabulado...

Juan: Olá menina! Tudo bem? Esse aqui é o meu filho...
Menina: Oi tudo bem? Pôxa como ele é alto... E branco! Nem se parece com vc, Juan!
Juan: Que é isso menina? Eu nom te falei que eu bine melhorar a raça de boçes?

Horrível. Detesto quando ele vem com essas elogios escrotos e preconceituosos. Geralmente após ele fazer essas brincadeiras, a pessoa com quem ele dialogou me olha com a maior cara de merda...

Menina(sorriso amarelo): Ah sim! Verdade. Ele é bonito...

Eu: Aff...

Juan: Então tá. Deja a gente ir trabajar que tem muito serbiço...

No caminho pro local do serviço, eu o falo:

- Pô Juan! Pára com essas leseiras de ficar falando que eu sou produto melhorado da raça. Sei que é brincadeira, mas é que eu não gosto. E tem gente que fica me olhando torto e acha que eu sou o maior convencido por causa disso...
- É só pra descontrair Seby. Além do mais, boçe é o orgullo do seu pai. Ah! E nom precisa ficar me chamando de Juan, pode me llamar de papi...
- Tá bom...


Chegando no local. Putz! Bem que eu desconfiei... O trampo era de cão! Do inferno...

A unidade em que fomos, não era constituída de um prédio só. Logo, eram diversos prédios ligados externamente por uma rede de postes. Como o nosso trabalho era o de interligar uma rede com outra, eu teria que ir subindo em cada poste e passando os respectivos cabos de rede pra poder fazer o link de um prédio a outro. Tudo isso naquele lindo sol matinal do Amazonas, aquele de 38 graus à sombra...

Juan: Taí Seby! Eu bou tá no CPD do prédio principal. Tá bendo? É aquele lá longe... Bou tá configurando el roteador e las maquinas que irão gerenciar. Tô esperando os 7(!) cabos lá, tá?
Eu (com cara de peão desenganado): Caraca! Pô velho... Não tinha ninguém pra me ajudar não?
Juan (enérgico): Não! E bamos logo com isso que já está esquentando e eu nom quero ficar lá naquela merda o dia entero! Nom se preocupa! Tá fácil! É só amarrar os cabos no ombro, pegar o cinto de segurança, a escada, o capacete pra que os meninos de segurança del trabajo nom te encham o saco e ir passando os cabos lá no primeiro apoio do poste. Pronto!
Eu(sarcástico): Só? Tem algo mais?
Juan: Na berdade sim! Quando acabar de passar os cabos, tem que testar cada um deles...
Eu(literalmente fudido): Ah tá...

Lá fui eu. Consegui passar os cabos, um por um. Voltei olhando tudo turvo, mas tudo bem. Sequei o bebedouro após o serviço e fui checar o serviço lá com meu papi. Só que deu merda na hora de testa-los. Dos 7, 5 deram pau. Como a parte da conexão no inicio era responsabilidade minha, então já viu né?

Juan: La puta que lo parió!!! Pero que tenes en la cabeça? Que hablo yo? Griego? Te dije para prestar atencion em las conexiones!
Eu: Mas papi...
Juan: Papi é o carajo!!! Bolta lá e faz essa mierda direito. Enquanto a gente nom acabar a gente nom bai almoçar!
Eu: Putz...

Fui lá. Refiz, realmente tinha sido erro meu (devia estar meio zonzo por causa do sol). Mas tudo bem. Fomos almoçar lá pelas 3:45 da tarde. Meu velho estava mais calmo...

Juan: Muito bem! Agora é só ligar os cabos e testar a rede. Mas isso a gente faz amanhã, né? Trabajamos muito hoje...
Eu: Só...
Juan: Então? Gostou de trabajar um dia com o papai?
Eu: Só vim porque o Sr. Pediu. Uma duvida: onde está o garoto que faz esse serviço de cão pro Sr.?
Juan: Ah! Ele disse que ontem chegou muito cansado de la fiesta e eu decidi dar um desconto pra ele...
Eu: Grrr....
Juan: Que foi? Ah sim! Vc debe estar preocupado com la empresa. Nom esquenta geralmente nom tem muita coisa pra fazer nestes dias em que a produccion está de férias...
Eu: Argh!!! Grrr!!!
Juan: Amanhã tenemos que venir di nobo pra testar a rede tá? Mas isso é galho fraco...Nom se preocupa! E nom precisa me llamar de Sr. Pode me llamar de papi mesmo. Lembra que boçe é o orgullo do papai...

Foi um dia de cão... Ou melhor: de perro...

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